Por que minha mãe me odeia?

Postado em Coaching

Mais um dia único nos atendimentos do consultório. Quero agradecer a todos pelo incentivo para continuar compartilhando o que experiencio com o meu trabalho de Coach, Orientação Vocacional/Profissional e Terapia Sistêmica Fenomenológica. O último post: Por que minha mãe me odeia? teve uma repercussão muito positiva das pessoas e se você ainda não leu clique aqui .

Hoje atendi dois irmãos, Joãozinho e Pedrinho (nomes fictícios) que vieram para sessão separadamente, mas ambos no mesmo dia. Eles vieram impulsionados pela prima que fez uma sessão comigo e logo depois indicou a mãe deles e ao perceberem algumas mudanças na mãe também buscaram pela sessão.

Pedrinho é o 5° filho de um total de 6 filhos da mãe. Ele chegou disparando duas queixas iniciais: há 4 anos estudo para concurso e não estou tendo o resultado esperado e minha relação com meu irmão, mais velho, é péssima. Desde que ele voltou para casa, minha vida se tornou um inferno. Meu pai morreu quando éramos criança e meu 1° irmão (Joãozinho) entrou nesta função de marido da mamãe e querendo ser o meu pai. Joãozinho nunca gostou de estudar, trabalhava com minha mãe desde a adolescência, quando nosso pai faleceu e hoje vive as custa dela, diz ele indignado com o irmão.

Neste momento pensei nas funções que desempenhamos na família, na cegueira causada pelo estresse emocional e que muitas vezes queremos salvar nossa mãe nos tornando filhos parentais (pais dos pais), brigamos com irmãos por achar que eles são mais vistos e assim ambos ficam presos na mãe, com a expectativa de ajudá-la e de serem vistos e amados como o melhor filho. Quanta ilusão nossa criança ferida cria!

Observo em seu discurso que ele cria essa certeza de que o irmão quer acabar com todo patrimônio da mãe e consequentemente com o dele. E logo penso nas famosas histórias de heranças. E reflito sobre: O que é uma boa herança para um filho? Como os pais devem equilibrar o dar, que algumas vezes pode ser excessivo para os filhos? Como devem estes pais se  relacionarem com os filhos para que não causem disputas? E enquanto ele fala finalizo minhas indagações com: Quanta falta faz um pai presente na vida dos filhos? E quais as consequências dessa perda para a família? E termino minhas reflexões com um aprendizado adquirido com o estudo sistêmico fenomenológico: A função dos pais é se tornarem desnecessários e a impressão que tenho é que ninguém sabe disso, nem os pais, nem os filhos.

Ele segue falando: eu gosto de estudar, mas confesso que fiz minha faculdade meio “nas coxas”, tentei empreender, mas sem resultados efetivos assim como meu irmão. E depois disso resolvi estudar para concurso. Neste momento pergunto o que você busca no concurso? E ele responde: eu quero estabilidade e segurança. Neste momento me lembrei de quando eu também já busquei por isso e o perguntei: O que faz você se sentir seguro e estável? Ele fica pensativo e nada ouço. Espero mais um tempinho e pergunto novamente: O que precisa acontecer para que você se sinta seguro? Quando foi a última vez que você se sentiu assim? Ele permanece pensativo. E continuo com as perguntas para auxiliá-lo nas reflexões: E o que você pode fazer hoje, para se sentir assim?

Ele finalmente responde: Eu preciso entender porque não consigo o que quero, percebo que me saboto o tempo todo. Eu defino meus objetivos, estudo, estudo e não saio do lugar. Isso me faz perguntá-lo: E onde você está parado agora? Ele responde: na casa da minha mãe, e quando penso nisso, acho que sempre estive lá, conclui ele. E que função você desempenha na casa da sua mãe? Ele responde: eu a protejo do meu irmão mais velho, eu tento controlar o barco para ele não naufragar. E eu novamente pergunto: Isso é função de filho? Isso está funcionando? ele diz: Não, definitivamente não está. E inevitavelmente pergunto: Se você está controlando o barco da sua mãe, e nem está fazendo sua função, quem é você? E quem controla o seu barco?Ele responde: eu achava que era eu, mas vejo que estou me distraindo com toda essa disputa e preocupação com ela. E eu pergunto: Por que você está se distraindo? E ele com lágrimas nos olhos diz: porque eu não posso ser e ter aquilo que deveria ser e ter até que minha mãe seja o que deveria ser. E eu novamente pergunto: e quem você acha que ela devia ser? Ele volta a ficar pensativo e emotivo. e eu o estimulo a refletir novamente perguntando: E quem você deveria ser e ter?.

Neste momento as emoções o inundam e ele chora de soluçar. E eu deixo e estímulo esse momento dele, para que ele possa sentir a dor de não estar sendo ele e nem fazendo nada por si próprio, de estar ocupando uma função que não é sua por amor incondicional a mãe. E enquanto isso penso em uma citação de Martin Luther King Jr que diz: “Qualquer coisa que afete diretamente alguém afeta a todos e com isso eu nunca posso ser aquilo que deveria ser até que você seja o que deveria ser, e você nunca pode ser aquilo que deveria ser até que eu seja aquilo que deveria ser. Está é a estrutura inter-relacionada da realidade”.

Após deixar as emoções fluírem ele se sente melhor e o corpo que estava rígido e tenso, relaxa e se aquece. Neste momento peço que formule uma frase de intenção para iniciarmos o trabalho fenomenológico. Durante o trabalho várias emoções surgiram e ele pode ver algumas dinâmicas atuando em sua família e em si próprio. Pode ver que ele e o irmão estão inconscientemente preenchendo o vazio da mãe. Que quando ele olha para seus projetos e se direciona para sua vida o irmão mais velho se sacrifica para que ele possa ir, só para a mãe não ficar sozinha com sua dor. E que ao ver essa dinâmica ele desiste de caminhar, de olhar para seus projetos e seu corpo paralisa em uma rigidez total e fica aguardando que o outro irmão também possa ir para vida, e quando o irmão se move, quem fica preenchendo o vazio da mãe é ele.

Então eu o pergunto: Quem está controlando tudo isso? Quem controla quem vai e quem fica?E ele responde: Acho que inconscientemente, minha mãe e percebo que com isso nós dois ficamos presos tentando ajudá-la. Neste momento a dor o invade novamente e ele vê seus projetos o olhando e  o aguardando e ele preso no mesmo lugar, assim como o irmão sem conseguir se mover. Sente o seu corpo congelado e rígido, em pânico de deixar a mãe sozinha.

Encerramos a sessão logo após ele sentir estas emoções e poder integrá-las em seu corpo. Neste momento ele me diz que era o que precisava ver e sentir. Que achava que o irmão estava passando a mãe para trás, mas que pode ver o quanto esse irmão foi o “ralo” da família, que ocupou o lugar do pai que morreu e que vê ele substituindo a função de marido da mãe e ele como sendo o pai e a mãe da mãe, como seu protetor, quem a orienta e que sentiu uma dor muito grande, por ver que a mãe não está disponível para ele como ele imaginava. Após sua fala tem um insight de quando o irmão se mudou e ele se tornou o reizinho da casa, o xodozinho da mãe, que na época se sentia especial, sendo visto, mas a que preço? ele se indaga. E que foi importante ver e sentir que ainda está neste lugar, esperando a mãe ficar forte para conseguir ser a mãe que ele queria e que agora ele pode olhar para o irmão com outros olhos, sem essa disputa infantil para ver quem fica colado na mãe e com a ilusão de ser o filho preferido que salvam a mãe.

Neste momento eu o pergunto: Será mesmo que sua mãe é fraca como você acha? Ou isso é apenas uma interpretação sua? Me descreva um exemplo de fraqueza dela e seu? Ele fica mudo tentando lembrar e não consegue. E eu volto a perguntar: Então você poderia me descrever momentos de força dela e seu? E ele começa a falar: Sim ela é muito guerreira e com essa crise tem trabalhado duro para tudo seguir bem para nossa família e para os funcionários da empresa. E eu, estou sempre achando que ela não dá conta e fico achando que tenho que fazer algo por ela. E eu o pergunto: Que mãe é essa que você tem internalizada dentro de você e que você ainda aguarda ser visto por ela? Ele responde pensativo, concluindo que foi ótimo olhar para a realidade das suas relações familiares, para o fato de estar paralisado neste lugar na esperança de ser visto por uma mãe que ele deseja que fosse diferente dá que realmente tem e que agora se sente mais fortalecido para olhar para si próprio e compreende melhor o que está acontecendo com ele.

Finalizamos o atendimento e eu o digo: a oportunidade dança com aqueles que já estão se movimentando no salão e quem escolhe a música que vai dançar é você. Você é o único responsável pelo que vive e pela construção da sua solução. O único que pode mudar tudo é você, só basta decidir e começar a fazer suas escolhas.

Quanto mais eu estudo sobre o trabalho das constelações, mais fica claro para mim que a solução não é construída no trabalho fenomenológico, este não é o objetivo dessa técnica. A verdade é que quem constrói a solução é o cliente, em suas escolhas do dia a dia. Quando me perguntam sobre isso eu pergunto: e onde fica a auto responsabilidade de cada pessoa com seu processo? E como fica o equilíbrio do dar e receber dessa relação terapeuta cliente? Em qual função esse terapeuta se coloca quando quer construir a solução para o cliente?. Deixo aqui estas perguntas para reflexão.

Eu amo o que eu faço!

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