O lugar dos filhos

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Todos os dias recebo filhos que carregam uma espada que ora é usada para defender os pais e ora para usá-la para sacrificar a si mesmo em detrimento deles. Ambas  as situações os colocam em um lugar, infantil, de heróis, de salvadores dos pais.

Um certo dia de atendimento, recebi Mariazinha, uma mulher de uns trinta e tantos anos com jeito de menina que trazia uma felicidade camuflada para esconder sua dor.

Assim que pergunto: O que te traz aqui?- atualmente tenho acrescentado a esta pergunta  outra: Como posso auxiliar você a se ajudar ou salvar?- Ela dispara sua história que esconde a queixa de não saber porque não consegue assumir sua relação amora para seus pais.

Faço uma escuta ativa sem que ela fale muito, já que para mim o importante é o que seu inconsciente já está me mostrando através da sua linguagem emocional e corporal.

Peço que formule sua frase de intenção-uma frase contendo o que a levou a buscar a constelação, seu problema, conflito ou sintoma por exemplo. Após esta formulação, juntas exercitamos o exercício de conectar com sua frase e observar as emoções que surgem e as nomeamos. Parece algo ridículo, mas atualmente as pessoas não sabem nomear suas emoções e isso me diz sobre sua cisão emocional e com seu corpo. Atualmente as pessoas me descrevem suas emoções como se descrevessem os emojis do celular. Não foi o caso desta cliente, mas é uma recorrente no consultório.

Então pedi que posicionasse os bonecos para representar os elementos da sua intenção para que seu inconsciente se manifestasse através das posições dos bonecos e das sensações corporais-tudo isso não é místico, esta leitura é feita através da linguagem não verbal das emoções e do corpo- Ela se posicionou no meio da relação pai e mãe, não tendo espaço para que o namorado e nem para sua profissão e seus objetivos.

Estar no meio dos pais traz uma dinâmica familiar inconsciente que interfere nas decisões do dia a dia da pessoa de várias formas. Um filho que fica no meio dos pais está funcionando na crença infantil de herói e de sacrifício pela relação dos pais e do sistema familiar. Independente da forma como esta dinâmica atua na vida da pessoa observo uma característica em comum a todos que apresentam esta dinâmica- de uma forma ou de outra foram escolhidos para salvar, cuidar, carregar as dores, fazer companhia aos pais e etc. Esta escolha não é verbalizada, ela é implícita como quando os pais dão tudo para os filhos, quando os pais, principalmente as mães, que dão mais atenção para um filho do que para o outro e o que não recebe atenção ficar preso emocionalmente na busca por amor, atenção, carinho, segurança e ser visto. Esta mesma dinâmica também acontece aos filhos que são os centros de atenção dos pais e da família que no fundo não são vistos e ficam presos na dinâmica para se manterem neste lugar do preferido. Existem várias formas inconscientes dos pais prenderem inconscientemente os filhos, estas não são as únicas.

Os dois primeiros exemplos podem trazer, algumas possíveis, consequências na vida da pessoa: não sair de casa, sair de casa e depender financeiramente dos pais, não casar, não ter filhos, não saber o que deseja profissionalmente, ou seja, quando os pais dão tudo para os filhos os tornam de alguma forma impotentes e incapazes de irem para a vida com as próprias pernas. Outro ponto importante é que a busca incessante pelo amor do outro me faz ligar um sinal vermelho, de alerta, porque pode trazer um padrão ou tendência para relações abusivas, por buscar ser amado, visto e consequentemente a pessoa abrir mão de tudo e de si mesmo em detrimento do outro para conseguir este amor.

Os exemplos são vários, no caso desta cliente ela queria algo e pode ver que emocionalmente ela não se permitia viver o que sonhava devido a um trauma infantil ocorrido em sua fase de desenvolvimento que afeta não só a área do relacionamento, mas que ela também projeta na profissão. Poder ter consciência da dinâmica, do discurso familiar e das crenças que carregava para a nova relação, profissão e que não tinha ninguém a impedindo além dela mesma foi libertador para que ela pudesse decidir se casar e mudar mais tarde.

Neste contexto a tarefa para colocar a constelação na prática do dia a dia foi:

Ser uma observadora de si mesmo e detectar quando estava agindo no automático e fora do lugar, fora das suas funções na família, no profissional e no relacionamento.

Se permitir viver o que sonha através da ação de falar sim para si mesmo 3x ao dia- ações diárias onde a pessoa se sente bem por fazer algo por si, sem culpa, sem raiva, sem fazer escolhas entre dor e prazer, sem ser mãe, pai ou filha com pessoas que não correspondem a estas funções.

Se espelhe neste exemplo e comece a viver de forma mais consciente a suas relações.

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